Exéquias do Cardeal Cerejeira


A propósito da morte do Cardeal Gonçalves Cerejeira, recebemos do coronel Manuel da Costa Braz um mail com a transcrição da notícia desse acontecimento publicado no Diário de Lisboa em  4 de Agosto de 1977.
Acompanha a transcrição, um interessante texto redigido na sequência da sua presença nas exéquias do prelado, na qualidade de Ministro da Administração Interna do 1º Governo Constitucional  chefiado pelo Dr. Mário Soares.  
Com o intuito de melhor  ilustrarmos  a notícia, ”transformamos”, sob nossa responsabilidade, a transcrição da notícia pela publicação da 1ª página do DL de  4 de Agosto de 1977. 














"É visível o esforço do DL para dar a breve notícia…

Duas estórias à volta do evento:

Claro que o Dr Mário Soares entendeu que devia estar presente na cerimónia, mas pretendeu ir acompanhado e para isso convidou-me a mim e ao seu amigo Bacelar, até porque este era titular de uma pasta com variadas relações com a Igreja. Eu aleguei que não tutelava ”os cultos” como em tempos passados, de 1910 a 1933, aconteceu com o Ministério da Justiça e de Cultos. Mas penso que comigo tencionava matar dois coelhos de uma cajadada: tinha um militar e abrilista consigo - o que na altura ainda era interessante - e não tinha que procurar convencer o Dr Salgado Zenha- então Ministro da Justiça -  num esforço muito provavelmente inglório. Digo eu.
Certo é que lá fui e ajudei no que me foi possível: dizendo-me que não conhecia os rituais da cerimónia, quando levantar ou sentar, eu disse-lhe que também não mas a coisa não seria difícil se fizéssemos, nesse campo, atenta e rapidamente, o que os outros fizessem. Noutros detalhes bastaria uma adequada e natural atitude reverente. Terá ficado razoavelmente confortado e acho que nos portámos muito dignamente com o devido respeito pelos credos e pelas pessoas, incluindo nós próprios.
Porque haveria de certeza na assistência pessoas que olhariam para nós como reincarnações de Afonso Costa…

A outra estória:

Por diante de nós e a caminho dos seus lugares protocolares e funcionais passaram diversas figuras gradas da Igreja, de entre elas o manifestamente afável e simpático Bispo D. António Ferreira Gomes, o celebrado Bispo do Porto, politicamente crítico que Salazar fez exilar em 1959, só regressando dez anos depois com Marcelo Caetano na chefia do Governo.
Com o ar sisudo que o momento requeria, quando passou por nós - Mário Soares e eu - perguntou em surdina não detectável senão pelos destinatários, “Então isto aguenta-se ?“. A resposta optimista, “ Seguramente”, que obteve também sisuda e em surdina poderá tê-lo tranquilizado um pouco. Não sei por quanto tempo.
Mas não esqueci o episódio.

( Já agora anoto que recebeu merecidamente a Grã Cruz da Ordem da Liberdade em 1976 )"


Manuel da Costa Braz